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8 de Março, um único dia de voz.

  • Foto do escritor: Gabriela Mestriner
    Gabriela Mestriner
  • 21 de abr.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 26 de jun.

Esse ano, o dia de hoje me parece mais engasgado. Sou só eu?


Morar fora do Brasil e ainda ser carnaval no meu país—não tive, esse ano, a possibilidade de esquecer tudo por alguns dias, me vestir de carne e osso e ser feliz como se o mundo pudesse esperar. Penso em como nossa gente é brilhante em saber viver as alegrias apesar de tudo. Suportar.


Moro nesse outro lugar hoje, em meio ao assombro que nos atravessa e oprime ainda mais um mundo todo. Nunca me senti tão engasgada. Talvez tenha algo a ver com não ser mais cidadã de onde chamo de casa - e nada errado quanto a onde moro, muito pelo contrário, sempre quis viver tudo e sentir na pele o que é isso de ser um outro—afinal, “só enxerga a ilha quem sai da ilha”. Mas, de alguma forma, sair é abrir mão de privilégios quentinhos, que me ajudavam a manter bonitas ilusões.


Ai da mulher que escolhe o caminho da ilusão.


Esse ano, como nunca, ser mulher tem mil outros lugares—muitas vezes, ainda menores.

E, como tudo o que é humano é complexo, vivo também uma das fases mais incríveis e deliciosas da minha vida, em uma cidade que amo, com oportunidades inimagináveis, em um país que quase nada me desce bem—pega no estômago.

Acho que sabedoria também tem a ver com enxergar essas muitas camadas de tudo, não viver em dualidade e busca—ainda assim, sinto saudades da inocência binária, composta apenas de bom e ruim, certo e errado, sim e não. Mas quando a gente perde a inocência de menina, percebe que tudo sempre foi um “não” fantasioso de “você pode ter tudo que sonhar, princesa” e ganha mil novas perguntas, assombros, culpas e castigos da desobediência—que ainda assim, não troco por nada, porque as desilusões e dores são próprias, não mais arrendadas.


Todo santo dia, novas camadas de opressão, fantasiadas de conquistas coletivas. Menos hoje, que tudo é exatamente igual, mas podemos fingir que também existe esperança.


Hoje, é assim que me sinto e não consigo compartilhar mulheres geniais ou possibilidades de outros futuros. Me sinto uma traidora, uma péssima feminista.

Nos contentamos com tão pouco - um único dia de voz, sério? - e essa opressão que existe também em mim chega nesse parágrafo e já me grita: “chata, cala a boca”.


Pelo menos pude cuspir até aqui.


Provavelmente nunca vou compartilhar, mas me enjoa o impulso de ter que pedir permissão para falar se o fizesse. Ou, pelo menos, saber que ninguém lê mais nada hoje em dia - me sinto mais segura assim. Que pena. 


Pensamentos soltos e desorganizados, que nascem do incômodo de não conseguir dizer nada sobre o Dia Internacional da Mulher em 2025. Mas uma coisa sei bem; muda, hoje, eu não fico.


Hoje, não.


Feliz dia internacional da mulher!


Gabriela Mestriner 

8 de Março, 2025 

Brooklyn, NY 




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